Floresta Negra, sucesso na quarentena

Lá na Alemanha, há uma bela porção de mato chamada Floresta Negra. Nunca estive lá, mas no dia em que eu estiver, vocês podem ter a mais absoluta certeza de que estarei acompanhado de um bolo inteiro com o mesmo nome, e farei uma foto bem instagramável, e o comerei inteiro, e será dos dias mais felizes da vida.

Eu amo esse bolo porque é tão molhado que parece torta, e porque mistura coisas que nasceram umas para as outras: chocolate, cereja e chantilly. E que não é doce em profusão, portanto dá pra comer em porções cavalares, nada recomendadas na quarentena, quando devemos manter hábitos saudáveis, mas ao mesmo tempo super recomendáveis porque a saúde mental é que está mais em jogo que a física, neste momento, e ter crises de ansiedade não é opção.

Para criar minha própria Floresta Negra, recorri aos ensinamentos de mestras do sabor, aliadas à intuição de que uma mescla de seus saberes + algo que achei na internet seria sucesso... e foi. Dos grandes. Tenho provas:

Uma imagem vale mais que mil palavras, dizem

Eu queria um bolo de chocolate molhado, mas não queria molhar o bolo. Isso parecia algo improvável, mas a Raíza Costa prova, em seu Dulce Delight, que não é não. Há bolos que são molhados porque são molhados e pronto. É meio chatinho de fazer, e ela usa porções exageradas pra fazer um bolaço gigantesco, o que faz sentido se você estiver numa casa com várias pessoas, mas nenhum sentido se você está alone. Ou seja, fiz meia receita. E são os pesos e medidas que usarei aqui.

Além do bolo molhadão (cujo vídeo completo você vê no canal da Raíza), também queria usar um chantilly mais estruturado que o chantilly normal, que você bate creme de leite fresco na batedeira ou no fouet até atingir o ponto. Esse, normal, simplesmente vai liquidificando e desaparece, se você levar uns dias pra comer o bolo todo. Só que a maioria dos chantillys estruturados que existem usam gelatina sem sabor, o que muda a consistência e o sabor dele, e eu não gosto (em geral, não curto coisas gelatinadas). Aí achei a receita de chantininho... Mermão! É surreal como não muda nada a consistência, mas o mantém firme por dias. E é só tacar umas colheradas de leite em pó e um tanto bom de leite condensado no chantilly, já feito, na batedeira, e bater mais. Sério. E não deixa o troço doção, mas com um saborzinho de ninho que pultaqueopariu. Aí, taca umas cerejas e corre pro abraço. Enfim, bora!


Bolo - ingredientes

1 pote de iogurte natural (aqueles de 160 ml)
3 ovos
170 g de chocolate amargo
100 g de manteiga em temperatura ambiente
1/2 xícara + 1/4 de açúcar
1 xícara e 1/2 de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
1/2 colher de chá bicarbonato de sódio
1 colher de sopa de chocolate em pó
20 ml de água fervente
1 pitada de sal

Bolo - preparo

Daí vem a parte mei chata, pois suja um bocadim de louça, mas VALE CADA MINUTO DE SOFRIMENTO LAVANDO AS VASILHA. Tem que ter três vasilhas, mais um copo.

Na primeira, misture farinha com fermento e bicarbonato: é a mistura do bicarbonato com o iogurte que produz bolhas de ar, que umidificam o bolo e o mantém molhadim. MAS, agora, só é pra misturar os secos, talquei?

Na segunda, os ovos com o açúcar. bata com um fouet até virar um creminho liso.

Na terceira, o chocolate amargo picado com o creme de leite e o iogurte. Leve ao banho maria. Isso vira um creme que dá vontade de desistir do bolo e se divertir na frente da TV vendo BBB, mas como acabou o BBB, persevere! O bolo vai valer a pena. Quando isso acontecer, num copinho, misture o chocolate em pó com a água quente. ATENÇÃO, eu disse chocolate em pó, não achocolatado, portanto, é o chocolate do padre (ou qualquer outro, se você é uma pessoa mais chique e tem acesso a outros chocolates). E taque essa misturinha no chocolate com iogurte.

Aí, vai lá na vasilha dos secos, taca uma pitada de sal e misture. Misture os ovos. Misture o chocolate. Reze uns dois Pais-Nossos e umas três Aves-Marias e chore um pouquinho de emoção. E é o seguinte, DICA PRA VIDA, pra nunca mais embatumar um bolo: não fica lá batendo duas horas essa massa não. Uniformizou, tá uniformizado, não precisa ficar sovando porque isso não é pão. Quanto mais você fica mexendo no trigo, mais ativa o glúten, que forma uma rede (que é ótima no caso de pães e é péssima no caso de bolos). Taca tudo numa forma redonda untada (a Rita Lobo ensina: misture chocolate em pó no trigo de untar e, assim, não terá aquela crosta branca de farinha ao desenformar), leve ao forno pré-aquecido a 200 graus. Mais ou menos uns 35 minutos após, comece a operação espetar palitinho: espetou, saiu limpo? Tá pronto.

ESPERA ESFRIAR PRA DESENFORMAR.

Usei uma forma de fundo removível. Pra separar em duas partes pra colocar o recheio, use um pedaço de fio dental: envolva o bolo todo, na altura da metade dele, com esse fio, e puxe as pontas como que "tesourando", no movimento de "x". É bem mais prático que usar uma faca. E como a massa é beeem fofa, cuidado: ela pode quebrar quando você tirar a tampa. A minha quebrou, a da Raíza Costa, no vídeo, também, o que fez com que meu bolo ficasse desse jeito:

Uma das partes quebradas foi caindo pro lado, daí taquei chantilly e tudo bem

Bom, temos agora as partes de cima de de baixo do bolo. Sobre a parte de baixo, taca um bocado bom de cerejas em calda, picadas. PRESTA ATENÇÃO pra comprar cereja e não "doce à base de cereja", essa picaretagem moderna que transforma bolinhas de chuchu em cerejas fake, que são a coisa mais demonha do mundo.

Por sobre essas cerejas, taca o chantininho. É só bater uma garrafinha de creme de leite fresco na batedeira até dar o ponto de chantilly, com umas duas colheres de açúcar pra não ficar enjoento (na verdade, pro chantininho, não precisa nem de açúcar). Cuidado com o ponto: se passar, ele vira manteiga (sim, essa é uma forma de fazer manteiga também). Taca oito colheres de leite em pó e meia lata de leite condensado (não precisa de mais do que isso) e volte a bater pra uniformizar. Põe a parte de cima sobre o chantininho e emplastra por cima e pelas laterais, pra cobertura. Pra ficar lindão, pegue um pedaço de chocolate amargo e rale fino pra tacar por cima e pelos lados de tudo. É um porre, porque é chocolate bom e não aquela porcaria hidrogenada, e fica uma lambreca nos dedos depois de tacar tudo. Mas aí é só lamber e lavar a mão depois.

E seja feliz.



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